No Dia de Corpus Christi, Deus se mostra, mais que nunca, presente entre nós. Na sua razão de ser e de nos amar, garante mais uma vez que estará conosco, com cada um de nós, “até o fim dos tempos, até os confins do mundo” (cf. Mt 28, 20). Novamente, nos diz: “tomai e comei, isto é o meu corpo”; “tomai e bebei, isto é o meu sangue” (Mc 14, 22.24).
Como é bom, como é suave ouvir isso repetidas vezes em nossa vida! Desde crianças nós o ouvimos e repetimos a cada ano que passa, a cada domingo que chega, a cada dia em que dele nos aproximamos pelo mistério da Eucaristia. E por ser algo tão sublime, tão belo, tão verdadeiro e, ao mesmo tempo, tão emocionante, nós o ensinamos às crianças, nós o passamos aos jovens, nós o celebramos com a comunidade ininterruptamente.
A partir da celebração da Santa missa, nos colocamos genuflexos diante do Sacramento mais santo, o Santíssimo Sacramento, para adorar e agradecer, para amar e ser amados, para com ele aprender a amar, sobretudo a Deus e ao próximo. Diante de sua nobre, bela, silenciosa e humilde presença, nós nos inclinamos reverentes e cantamos: “tão sublime Sacramento adoremos neste altar, pois o Antigo Testamento deu ao Novo seu lugar”.
Agora não utilizamos mais o sangue de animais para simbolizar o perdão dos pecados, como vemos na leitura do Êxodo, nas palavras santas de Moisés (cf. Ex 24, 4-8). Agora contemplamos: Jesus mesmo derramou o seu sangue, pois é o único que pode nos purificar para sempre. Ele se deu na Páscoa, sobre o altar da cruz. O Antigo deu ao Novo o seu lugar.
O Sumo Sacerdote do Antigo Testamento, sacerdócio passageiro e anual, deu lugar ao único e eterno Sacerdote, Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. O humano e efêmero sacerdote da Antiga Aliança agora é substituído pelo Grande Sacerdote capaz de nos salvar para o banquete eterno na casa do Pai. É a tenda maior e mais perfeita de que nos fala a Carta aos Hebreus: “Ele, com seu próprio corpo, entrou no santuário uma vez por todas, obtendo a salvação eterna” (Hb 9, 12).
Este santuário já é prefigurado na Terra pelos templos que aqui edificamos para a celebração dos santos mistérios de Cristo. Entre tais templos, distinguimos alguns para dar o título de santuários para que, mais facilmente, nos recolhamos para celebrar sua real presença, para ouvir as vozes do seu silêncio, para meditar a Palavra sagrada, para encontrar o sacramento da confissão que nos purifica e nos restitui a inocência batismal, para celebrarmos pessoal ou comunitariamente o
sublime amor da sua real presença e para termos o gozo de estar, de nossa parte, literalmente, na presença d’Ele.
Procurando valorizar ainda mais este espaço eucarístico, elevamos o nosso adorável Cenáculo São João Evangelista, situado no centro de Juiz de Fora, à sublime condição de Santuário Eucarístico Arquidiocesano. Queremos, com este gesto, prestar sincera homenagem de gratidão às estimadas Irmãs Servas do Santíssimo Sacramento, que há quase 75 anos servem à nossa Arquidiocese com a obra admirável da Adoração perpétua. Recordamos, com veneração, a saudosa Irmã Emerenciana, de nobre família desta cidade juiz-forana, que, cheia do amor eucarístico, se consagrou na Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento e a ela doou este patrimônio, incluído o belo templo que se tornou Santuário para maior glória de Deus. Entregamos o Santuário Arquidiocesano da Eucaristia aos cuidados das Irmãs Servas do Santíssimo Sacramento com o auxílio dos seus coirmãos, os Padres Sacramentinos, que nos deram a alegria de também fundarem uma casa em nossa Arquidiocese juiz-forana há pouco tempo.
Com esta iniciativa, nascida do nosso II Sínodo Arquidiocesano e das celebrações do centenário da criação da Diocese, o que desejamos é que aquela casa e aquela obra sejam cada vez mais vistas, amadas e procuradas pelo povo, para que cresça na sua fé e no seu amor eucarístico, como desejava São Pedro Julião Eymard, o maior dos apóstolos da Eucaristia na vida da Igreja. Para isso, instituímos também o Ano Eucarístico, composto de tantas atividades litúrgicas e pastorais, caritativas e solidárias, cujo início se deu com a belíssima celebração dos 100 anos, a 4 de fevereiro passado, numa memorável liturgia que esta Igreja Particular jamais há de esquecer.
Somos, com isso, chamados a rezar mais uma vez diante do Senhor: “fazei de nós um só corpo é um só espírito” (Ef 4, 4), lema do nosso Ano Eucarístico. Viva Jesus na Santa Eucaristia! A Ele a glória e o louvor para sempre. Amém!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora