
Na Quarta-Feira de Cinzas a Igreja, “peregrina da esperança”, isto é, nós os vivos, nos convida para nos prepararmos à participação efetiva, eficaz e frutuosa dos mistérios pascais. Não deveríamos faltar ao Tríduo Pascal: Quinta-feira santa, Sexta-Feira Santa e Sábado-Santo.
O fruto maior da celebração da Semana Santa é a conversão e, para tanto, a Igreja, pedagogicamente, prescreve os exercícios quaresmais, para reforçar, dar mais vigor à nossa vontade de modo acolher as moções do Espírito Santo e, mais livremente, fazer a vontade do Senhor.
Um importante momento nesta preparação é recorrer às mãos misericordiosas de Deus e buscar a reconciliação com Deus, nosso Pai; com a Igreja, nossa mãe; com os irmãos e, porque não dizer, com a criação, a bela obra da sabedoria de Deus.
Recorrer ao sacramento da Penitência é uma necessária profissão de fé, na bondade, no amor de Deus. Por Ele somos amados e o Pai fica sempre ansioso por nos abraçar como fez ao filho pródigo. Por outro lado, a Igreja é chamada a promover a festa dos reconciliados em Cristo.
Por fraqueza, por nossa pequenez e devido aos nossos pecados, podemos sentir vergonha de buscar o precioso meio de obter o perdão. Poderíamos pensar: “É grande o meu pecado…”. Mas o amor de Deus manifestado pelo Crucificado é muito maior. Os pecados, mesmo o maior dentre eles, são finitos, enquanto Deus é Infinito. Meu caro irmão, por acaso passa pela sua cabeça que Deus vai se intimidar com suas faltas? Vai desviar o seu rosto de você que foi criado à imagem e semelhança D’Ele? Será preciso recordar-lhe, assim como Moisés, curioso, tirou as sandálias para se aproximar da sarça ardente, ícone do Deus a se consumir de amor por seu povo amado, que também será preciso de sua parte desnudar pés e seu coração de qualquer pretensão de justificar seu mal. Tenha em mente a famosa parábola do fariseu e do publicano. Aquele permanecia em pé, em atitude até arrogante, numa oração tresloucada a desfiar diante do altar suas “virtudes,” enquanto esse último, simplesmente bate no peito e clama pela misericórdia do Pai.
Saiba de uma coisa: Deus ama os caídos, os que julgamos condenados, mas contritos de coração derramam pesadas lágrimas e se tornam impossibilitados de julgar e condenar os outros. Deus ama os recaídos que, mesmo envergonhados de suas faltas, recorrem humildemente a Ele, para beber a seiva vital, o sumo da eternidade, da divindade a escorrer pelos séculos dos séculos de seu lado ferido pela lança. Deus ama os trescaídos. Lembremo-nos da resposta a Pedro quanto à necessidade de sempre perdoar: “até setenta vezes sete vezes” (Mt 18,21-22).
Humildemente, aproxime-se daquele lugar, infelizmente tantas vezes escuro, sombrio num canto da capela. O confessionário é a sarça ardente do Deus que deseja ardentemente mostrar-lhe seu amor. Um padre vai ouvir seus pecados. Para nossa humana sorte, o padre é também pó da terra, filho de Adão, o velho; mas, agraciado nas fontes batismais, participa na vida em Cristo, o novo Adão. Imagine você, uma pessoa humana confessar a mais leve falta a um anjo. Seria o caso de cometer um “angelocídio”. Obra da graça divina é que o sacerdote será o ouvido, a boca da Igreja que recebeu o poder divino de
perdoar e, mesmo pecador, também ele vai oferecer-lhe o paterno abraço da reconciliação. Mesmo pecador, ele é o rosto misericordioso, bondoso e compassivo do Pai Celeste.
Na Quaresma, os padres se unem em mutirão para atender os penitentes. A fila penitencial é a mais saudável das filas no seu dia a dia.
Uma piedosa confissão com verdadeiro propósito de emenda é a melhor forma de deixar-se reconciliar com Deus, maneira excelente de celebrar os augustos mistérios de nossa salvação no Tríduo Pascal.
Dom Paulo Francisco Machado
Bispo de Uberlândia