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Quanto custa um bom padre?

Quanto “custa” um bom padre? – Pode parecer estranha esta pergunta, mas tenho a impressão de que muitos católicos, às vezes tão exigentes com seus pastores, jamais se interrogaram sobre isto. Tem gente pensando que ele é produto de alguma engenhoca celeste.

         Um padre “custa”, no mínimo, oito anos de curso superior. Vejamos: um ano ou mais no Propedêutico, com professores que preparam os jovens para ingressarem no curso de Filosofia, e se adaptarem à vida de comunidade e de oração; depois, o Curso de Filosofia com duração de três ou quatro anos; segue-se o quadriênio de Teologia.

         Durante este apreciável período, o jovem faz as suas refeições normais, e aí vem o preço do feijão, do arroz, da carne, do leite, ovos, verduras, legumes, do pão. Ah! … ainda têm as cozinheiras e lavadeiras que recebem seus salários, tudo de acordo com as leis trabalhistas, e nem podia ser de outro modo. O aluno também tem todos os gastos próprios de um estudante: os livros, as passagens de ônibus, cadernos, computadores e toda aquela parafernália que vem cercando o estudante do atual século. Como ele não é feito de outra matéria, que aquela comum a todos os humanos, ele irá necessitar de roupas, sapatos, de médico e de remédios.

         Ele mora em uma casa onde discernirá se é autêntica a sua vocação. O nome Seminário evoca a sementeira que o prepara para o futuro exercício do ministério sacerdotal. O lar dos formandos consome energia elétrica, água, paga taxas de esgoto, etc., etc. Nesse ponto, em nada é diferente de uma casa de família e, bem numerosa.

Boa parte dos candidatos ao presbiterado vem de famílias pobres, ou mesmo, não conformadas com a vocação de um de seus membros e assim, muito pouco ou nada contribuem para auxiliá-lo na formação. No passado, sem fazer juízo de valor, pois vivemos outros tempos, a família contribuía com a formação de seu seminarista, e se a família não tivesse condições, buscava-se um “padrinho” ou “madrinha” para custear a sua formação. Conheci um bispo que pôde contar com o financiamento de seus estudos por um empresário católico e, daí, originou-se um forte sentimento de gratidão e uma grande amizade entre eles.  A dolorosa verdade é que, por exemplo, se esse jovem estivesse cursando Medicina, os familiares certamente se empenhariam em ajudá-lo a pagar seus estudos. Ter um médico na família é uma honra. E, um padre? O seminarista geralmente acaba recebendo tudo gratuitamente da Diocese, o que pode gerar nele a mentalidade de que a Igreja, a Diocese, a Paróquia, o povo fiel estão sempre a lhe dever numerosos benefícios, que ele cobra continuamente: boa casa, automóvel, boa mesa, celular, Tv por assinatura etc., etc.

         Até agora, eu falei dos custos materiais da formação de um padre, mas isso é pouco para a Igreja. Os fiéis são merecedores de um bom e, desculpem-me, eles merecem um padre que seja verdadeiro discípulo de Cristo, ame a Igreja e tenha espírito missionário, zelo apostólico, enfim, um pastor que à semelhança do Eterno Pastor, dê a vida pelas ovelhas confiadas a ele pela Igreja. Essa é uma tarefa: a busca, o cuidado com as vocações é tão grande, tão importante que envolve todo o povo de Deus, começando por pedir ao Senhor da Messe, com grande insistência, suscite verdadeiras vocações, jovens que desejem entrar na escola dos discípulos, na escola de Jesus. Se o fiel católico não reza, e muito, ele jamais terá um bom e zeloso sacerdote para atendê-lo.

         Mas não é só. Um bom e santo Ministro de Deus é formado num bom seminário, que disponha de bons padres formadores. Para isso, será necessário privar algumas paróquias de seus melhores pastores, que deverão ter dedicação quase que integral aos formandos. Precisará de um bom reitor, que seja como um pai atento aos passos de seus pupilos, que os acompanhe em todos os momentos.

Mas, sob aspecto humano-espiritual, o eixo de uma boa formação de um seminarista gira em torno de um padre sábio – aqui me valho do conselho de Santa Teresa: entre o santo ou o sábio, seja escolhido o sábio -, piedoso, discreto, plenamente confiável, totalmente dedicado à formação dos vocacionados: o diretor espiritual. A qualquer momento o jovem entra em crise e ele estará a postos para atendê-lo. O bom católico nem imagina como vai se tornando cada vez mais difícil encontrar essa rara espécie de padre: o diretor espiritual.

         Caro leitor, com estas considerações quero somente seu apoio, sua atenção e preces para o nosso Seminário. A Diocese de Uberlândia tem duas casas de formação: alguns alunos de filosofia e do propedêutico se encontram aqui mesmo, os de teologia estão em Belo Horizonte.

         Não escrevi nada de especial, somente aquilo que um celebrado escritor carioca, que me furto de citar o nome, chamava de “óbvio ululante”: o seminarista é “gente” e, o padre, por “suposto”, também. Sabiam disto?

Dom Paulo Francisco Machado
Bispo da Diocese de Uberlândia

Uma resposta

  1. Excelente reflexão D. Paulo para os que ainda não se dispuseram a fazê-la! Na verdade não seria bem uma reflexão e sim pensar sobre o óbvio! Toda formação sacerdotal passa por um processo: primeiro o espiritual , depois o familiar/ social e econômico, seguindo do acadêmico e por último o SIM a todo esse complexo é simplesmente processo que se chama VOCAÇÃO!

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