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Ave Maria

Em algum livro lido há muitos anos, creio que na famosa biografia do Cura D’Ars de autoria de Francis Trochu, “São João Batista Maria Vianney”, o autor ao narrar a juventude de nosso querido santo, dizia que ele, nos duros trabalhos no campo, para evitar o cansaço e a monotonia da capina, colocava à sua frente uma pequena imagem de Nossa Senhora e, assim, trabalhava com mais ardor e eficiência para a aproximação do singelo ícone de sua Mãe Celeste.

A Ave Maria é conjunção de duas partes: a primeira traz palavras do Evangelho segundo Lucas 1,28, na cena da Anunciação: “Ave Cheia de graça, o Senhor é contigo” e, num segundo instante: “Bendita es tu entre as mulheres” São palavras da própria Maria na visita à sua prima Isabel, a reconhecer os favores que o Pai lhe concedeu: “Todas as gerações me chamarão Bem-aventurada” (Lc1,48).Já a segunda parte é acréscimo bem posterior (século XV), mas não nos esqueçamos que foi no Concílio de Éfeso, em 431, por uma providencial pressão do povo de Deus.

Certo é que a Ave Maria terá sido a primeira oração decorada por cada uma das crianças católicas, deixando para sempre no seu inocente coração um lastro de confiança e de ternura a acompanhá-las por toda a vida. Por isso mesmo, tal prece sempre terá o poder de nos acalmar e pacificar em certos momentos mais tensos de nosso existir. Frequentemente, nos recordamos de famosa canção do Padre Zezinho, Maria da minha infância: “Ave Maria, mãe de Jesus. O tempo passa não volta mais, tenho saudade daquele tempo que eu te chamava de minha mãe”.

Perdoe-me se falo de minhas experiências. Estava na Universidade, já passava das 21,30, quando recebi a notícia da morte de meu pai. Imediatamente enfrentei a descida da serra de Petrópolis para ir ao encontro de minha família. Meus lábios e meu coração só sabiam sussurrar a simples saudação mariana. Também, quando recebi das mãos do Núncio Apostólico a carta de nomeação para bispo auxiliar de Juiz de Fora, por três meses quase fiquei “fora do ar” e rezava mesmo quando pessoas se dirigiam a mim, sussurrava intimamente por milhares de vezes a cada dia, a prece ensinada por minha mãe. Há algumas semanas, seguindo conselho médico, quando fazia caminhada no Parque Sabiá, descobri que o peso dos passos se tornava mais leves, no ritmo da Ave Maria. Ela nos acompanha, pelos campos do mundo (per ager) para a Eternidade.

Tem sentido ficar martelando as mesmas palavras inúmeras vezes? – A prece mariana é reconhecimento agradecido da sabedoria, amor e misericórdia divisado no plano divino de salvação. Na curta e bela oração reconhecemos que a redenção foi realizada pelo Verbo Encarnado, com a essencial cooperação de Maria, a mãe de Jesus. Não quero me alongar na resposta, pois é certo que o amante não se cansa de confessar seu amor para com a amada, não é mesmo?

Nos nossos dias, “O terço dos homens” repete em todos os rincões do Brasil as Ave-Marias por dezenas de vezes. Os grupos orantes vêm sendo incentivados ardorosamente pelo Arcebispo de Juiz de Fora. São milhares, milhões de homens desfiando as contas do rosário. Tenho a certeza: com essa devoção tão recomendada pelos últimos papas, e com as Ave-Marias nos lábios e no coração de cristãos se constrói uma sociedade menos violenta com homens, à semelhança de São José, mais ternos, pacíficos e com maior disposição para seguir, como Maria Santíssima, os passos de Jesus, nosso Salvador. Não resta dúvida: na companhia da Mãe, nossos passos no monótono cotidiano se tornam mais leves.

Para encerrar, tomo versos de poeta francês encontrado no fim de um lindo livro do dominicano E. Schillebeeckx; “ Maria, Mãe do Redentor”: “Porque vós estais lá para sempre, simplesmente porque vós sois Maria, simplesmente porque vós existis, Mãe de Jesus Cristo, muito obrigado” (Paul Claudel).

Dom Paulo Francisco Machado
Bispo Diocesano de Uberlândia – MG

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