No temático mês de agosto, a Igreja celebra as diversas vocações. Mesmo sendo variadas, todas as vocações tem uma só origem, que é Deus. É o mesmo e único Deus que nos chama. Os carismas, os dons e as vocações, além de terem uma só fonte, devem ser colocados a serviço da Igreja e dos homens. Uma vocação não existe senão que no entrelaçar do chamado e resposta. Para nós cristãos, não nos falta a consciência de que quem chama é Deus. Só Ele pode arrogar-se ao direito de convidar e propor ao homem um caminho que definirá toda sua vida.
O verbo latino “vocare” é a raiz de Voz e Vocação; ambas as palavras querem indicar que é Deus quem chama. É Ele quem dirige sua Palavra ao homem. Não podemos desmerecer que são múltiplas as formas ou os caminhos com que Deus nos chama. Por isso, não faltam na história da Igreja várias referências de pessoas que responderam ao seu chamado. Deus sempre se serve dos meios normais para nos chamar, e permite que sua voz seja ouvida (“Samuel, Samuel”) para que o vocacionado O responda (“Fala Senhor que teu servo escuta”). A resposta a Deus que nos chama só pode ser dada mediante a fé, que é a obediência à sua Palavra e seu convite.
A voz amiga e convidativa de Deus sempre nos assiste no curso de todo nosso itinerário vocacional, que implica toda uma vida. Talvez por isso, é melhor falarmos de “chamamento”, dado que esta voz não se faz ouvir só no início da vocação, mas nos acompanha no curso de toda nossa existência. Neste propósito, o “Sim” deve ser renovado a cada dia de forma alegre e convicta. É verdade que em toda autêntica vocação cristã é tão importante a resposta quanto o chamado; mas é verdade também que ela se firma cada vez mais quanto mais nos sentimos assistidos por Aquele que nos chama. Portanto, “as vocações eclesiais são manifestações das incomensuráveis riquezas de Cristo (Ef 3, 8), e devem ser tidas em grande consideração e cultivadas com prontidão e solicitude” (Ratio Fundamentalis, n. 11). A missão da Igreja é “cuidar do nascimento, discernimento e acompanhamento das vocações, em particular, das vocações ao sacerdócio” (Pastores Dabo Vobis, n. 34).
Por outro lado, toda resposta vocacional engloba uma opção que exige de nós muitas renúncias, já que escolhemos livremente o caminho que Deus nos indica. Em meio a tantas vozes do mundo, sobressai aquela de Deus. Portanto, todo vocacionado precisa viver a dinâmica de uma abertura radical a Deus e aos outros. Vocação é dom de Deus a serviço dos outros. Não podemos fazer mais conta de nossa vida, uma vez que atendemos ao seu apelo e ouvimos atentamente a voz do seu chamado. A vocação como dom e carisma sem esta abertura, doação e serviço, não é possível. A consciência da doação é indispensável em qualquer vocação na Igreja, seja esta sacerdotal, religiosa ou leiga. É nesta abertura, entrega e serviço aos outros que ocorre a realização vocacional. A vida cristã é uma vocação porque é uma vida segundo o Espírito, que nos fortalece no chamado e na entrega como servidores e testemunhas de Cristo.
Toda vocação encontra sua raiz no amor, pois ele é para o cristão a medida de todas as coisas e o fundamento de todo autêntico chamado de Deus. Vivamos a alegria do nosso chamado, no serviço generoso à Igreja, no testemunho e entrega aos irmãos e irmãs. Que nossas comunidades sejam celeiros de verdadeiras vocações, vividas como graça e missão. Que o ano vocacional fortaleça a consciência do discipulado missionário de todos os batizados.
Dom Pedro Cunha Cruz
Bispo diocesano da Campanha – MG