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CORPUS CHRISTI E ANO DA ORAÇÃO

Um presente, quando é dado e recebido com amor, é sempre recordado, guardado com muito cuidado. Olhar para ele sempre traz boas recordações. Sabemos que, no final de sua vida, Cristo nos deixou um grande presente: a Eucaristia. Foi na última Ceia, quando celebrava a Páscoa, que Jesus instituiu a Eucaristia, mas não a restringiu somente ao acontecimento da última ceia em si, mas perpetuou-a como sinal e memorial de todo o acontecimento da sua Paixão, Morte e Ressurreição. Por esse motivo, Ceia, Cruz e Túmulo se tornam espaços orantes concentrados na celebração do mistério Eucarístico.

Todos os anos, após celebrar o Tempo Pascal e a solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja nos enriquece com a solenidade de Corpus Christi. De uma certa forma, a adoração festiva da Eucaristia que nos foi impossibilitada de fazer na noite da Quinta-feira Santa, quando a Igreja já mergulhava dolorosamente na recordação da Paixão do Senhor, é retomada agora, numa outra Quinta-feira do Tempo Comum, para que possamos proclamar festivamente o Mistério do Santíssimo Corpo e Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor.

É uma grande oportunidade para que os fiéis contemplem, adorem e vivenciem profundamente o Presente que Cristo nos deu no final da sua vida. A Eucaristia, que é buscada por muitas pessoas diariamente, mas, especialmente, no Dia do Senhor – o Domingo – é solenizada nesta celebração do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Além da celebração da Missa, faz-se a Procissão com o Santíssimo Sacramento, percorrendo algumas ruas ornamentadas para a sua passagem. O povo fiel prepara a estrada por onde vai passar o Santíssimo Sacramento porque Ele, como disse o beato Carlos Acutis, “é a estrada que nos leva ao Céu”. Carlos Acutis, que será canonizado em breve, ao fazer esta afirmação, pensou, com certeza, nas palavras de Jesus: “Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida, ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).

Se for retirada da Eucaristia a espiritualidade, a adoração e o reconhecimento da presença de Jesus, ela se torna simplesmente um frio ritual. Sabemos que a Igreja organizou um rito para a celebração deste Santo Mistério para que todo o ritual Eucarístico nos leve a um profundo encontro com Cristo vivo e ressuscitado. Celebrar e comungar a Eucaristia deve nos levar a vivermos uma vida de íntima união com Cristo e com os irmãos. Quando Jesus nos manda “amarmo-nos uns aos outros do mesmo jeito que Ele nos amou”, está falando deste Amor de auto-doação e de comunhão solidária com os demais irmãos – o único Amor que Jesus conhece. Não é possível sair contente da Eucaristia fechando os olhos para os necessitados, para aqueles que hospedam em suas vidas as dores de Cristo.

Neste ano, a solenidade de Corpus Christi coincide com o Ano da Oração, proclamado pelo Papa Francisco como caminho de preparação para vivência do Ano Santo, que vai acontecer no próximo ano. O tema do ano Santo é “Peregrinos da Esperança”. Só conseguiremos peregrinar se estivermos abastecidos pela intensa, profunda e grande força de Cristo em nossas vidas. Ele é o sustento para todos nós. Por isso, espera-se que haja uma íntima unidade da solenidade celebrada em Corpus Christi com o Ano Oração, pois a Eucaristia é oração, oferecimento e “ação de graças”. Não dá para pensar não Eucaristia sem pensar na oração.

Desde o momento em que se sai de casa e se caminha para uma igreja com o intuito de celebrar a Eucaristia, todos já devem ter dentro de si sentimentos de unidade com Cristo e com as pessoas, expressos na oração a ser participada. Toda a celebração eucarística está impregnada do sentido de adoração e da profunda ação de graças que levam à comunhão com Deus e com as pessoas. A própria comunidade cristã celebrante já deve ser sinal desta comunhão.

Quando se termina a celebração da Eucaristia, os fiéis “eucaristizados” saem pelas ruas levando dentro de si a presença de Cristo, assim como Maria foi ao encontro de Isabel. É importante que se compreenda o mistério Eucarístico para além das paredes do templo e do sacrário, pois, no espaço da vida, as ações de Cristo continuam na vida dos cristãos.

O testemunho cristão se prolonga na vivência do amor ao mistério Eucarístico, na vida de comunhão com Deus e com as pessoas, no serviço generoso aos irmãos assim como fez Jesus no lava-pés, no pão partilhado com os famintos e no cuidado para que ninguém passe fome da Eucaristia. É importante que peçamos ao Senhor que envie operários para Messe para que o pão da Eucaristia possa alcançar a todas as pessoas que dele necessitam.

Com a Mística do Ano da Oração, nós, que somos todos “Peregrinos da Esperança”, devemos celebrar Corpus Christi percorrendo os espaços existenciais e teológicos do Cenáculo, do Calvário e do Jardim onde havia um túmulo no qual o corpo de Cristo foi colocado para ressuscitar três dias depois. Os Apóstolos, dando continuidade ao cumprimento do pedido de Jesus para que realizassem a Eucaristia em Sua memória, contribuíram para que esse mistério, perpetuado na ação da Igreja em todos os tempos, chegasse até nós. Por isso, hoje, o espaço teológico e existencial da manifestação de Cristo é a própria vida humana. Quanto mais digna for a vida, mais notória será a presença de Cristo entre nós. A oração nos coloca em sintonia com o Santo Corpo de Cristo a ser celebrado, neste ano, dentro do Ano da Oração.

Dom Messias dos Reis Silveira

Bispo de Teófilo Otoni MG

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