
O Dia de Finados é mais do que uma data no calendário civil e eclesiástico; é um convite à celebração da vida e à preservação da memória das pessoas que estão no céu. Ao relembrarmos os momentos compartilhados com nossos entes queridos, fortalecemos nossos laços afetivos e encontramos conforto em nossa fé. A visita aos cemitérios é repleta de simbolismos e nos permite honrar a trajetória de cada um e cultivar a esperança na vida eterna.
O dia de rezar pelos mortos é uma data que nos convida a uma profunda reflexão sobre a dinâmica da vida e da morte. É um momento especial de recordarmos com saudades as pessoas queridas que estão junto do Bom Deus. Nessa nossa caminhada, em que estamos vivendo e escrevendo a nossa história salvífica, à luz daquela que encontramos nas Sagradas Escrituras, resgatamos as lembranças de pessoas queridas que agora descansam em paz, nos braços de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que a Igreja, desde os primeiros tempos da fé cristã, honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios por eles, sobretudo o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus (cf. nº 1032). Esse ensinamento reflete a crença de que os fiéis, enquanto membros do Corpo de Cristo, estão conectados em uma comunhão de santos, na qual os vivos podem interceder pelos mortos, e vice-versa.
Assim, o Dia de Finados é uma expressão concreta da comunhão entre a Igreja militante (os fiéis vivos), a Igreja triunfante (os santos no céu) e a Igreja padecente (as almas no purgatório). Acredita-se que, ao rezar pelos falecidos, os fiéis participam ativamente do mistério da redenção e ajudam as almas a se purificarem para que possam entrar no céu.
Finados é um dia marcado por uma sensibilidade especial, em que afloram as saudades e os momentos vividos ao lado daqueles que amamos. O aconchego do colo de um pai, a ternura do olhar de uma mãe, a sensibilidade de irmãos, amigos e familiares… são memórias que aquecem o coração e nos fazem sentir a presença eterna dessas pessoas que foram tão especiais em nossas vidas e agora estão junto de Deus. É um momento para agradecer por todas as experiências compartilhadas e para nos conectarmos com a espiritualidade que nos envolve.
Ao visitar os cemitérios, levando flores, acendendo velas e rezando pessoalmente ou em família por aqueles que amamos, sentimos a presença de Deus e a certeza de que a morte não é o fim, mas sim uma nova etapa dessa jornada. São gestos simbólicos que expressam a vida como dom, a fé e a esperança na vida eterna. A saudade que sentimos é um sinal do amor que nutrimos por essas pessoas e nos impulsiona a seguir em frente, carregando suas lembranças em nossos corações.
Os rituais de acender velas, levar flores e rezar em silêncio ou em família no Dia de Finados, práticas históricas da fé católica, são gestos de profundo simbolismo e afeto, que nos conectam à memória dos entes queridos e às verdades transcendentais da vida e da ressurreição. Essas práticas perenes e humanas nos ajudam a lidar com a dor e a cultivar a esperança e devem ser preservadas, pois são “aplicativos da vida real” que nutrem a sensibilidade e a intimidade com a fé, em contraposição à busca de novos rituais baseados em algoritmos e criados por aplicativos que tendem a desvirtuar e roubar a essência transformadora desses atos de fé.
A visita aos cemitérios, levando flores, representa mais do que uma simples homenagem. As flores, em sua beleza e fragilidade, simbolizam a ressurreição e o amor que transcende a morte. Ao depositá-las sobre os túmulos, expressamos o carinho, a falta, a saudade, as lembranças das pessoas que amamos e a esperança na vida além da morte.
Acender uma vela, no túmulo, é um ato de devoção, um pedido de proteção e uma expressão de gratidão pela vida dos que partiram. A chama, que se consome, representa a vida terrena que se encerra, mas também a fé na vida eterna. A vela acesa lembra a luz da Ressurreição, Cristo que vence a morte e garante a vida eterna para todos nós. Lembra também a exortação de Jesus nas parábolas das virgens e dos servos vigilantes (cf. Mt 25,1-12; Lc 12,35).
Por fim, rezar pelos nossos entes queridos em um dia como esse é muito mais do que apenas lembrar deles. É um momento para compartilhar histórias, fortalecer a nossa esperança e renovar a nossa fé. É um forte apelo de conversão para que, nesta vida de “peregrinos”, preparemos nossa morada no céu. É oportunidade para repetirmos: “nós cremos na vida eterna e na feliz ressurreição, quando de volta à casa paterna com o Pai os filhos se encontrarão”.
Dom Edson José Oriolo Dos Santos
Bispo de Leopoldina
