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Coração

Compreendemos o coração humano como o centro dos nossos desejos e de nossas emoções mais profundas. A pessoa é o que revela o seu coração, fonte de toda a sua bondade ou perversão. Perscrutar o coração de uma pessoa é analisar suas emoções, suas afeições e até mesmo o seu caráter, para se chegar às características de sua humanidade. Para se entender o outro, na sua realidade mais fundamental, é preciso adentrar e analisar os segredos de suas profundezas.

O coração humano não é constituído somente de tecido muscular. Ele é constituído de história, repleto de estigmas, de traumas e sentimentos, desejos reprimidos e energia inesgotável, ódio e compaixão. Toda a corporalidade humana expressa a identidade do seu coração, por meio dos gestos, feições e palavras. Diante das pessoas que se ama,  oferece-se o melhor que se dispõe em seu coração. Diante das pessoas que se odeia, destila-se o mais perverso veneno.

O nosso coração manifesta o que somos, nestes tempos de pós-modernidade: individualismo, narcisismo, orgulho; vislumbres de novos atrativos e encantos… luzes que pervertem os nossos desejos; luzes que queimam o coração humano e a nossa espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo; luzes que ofuscam a Luz verdadeira, a Luz do mundo. O desafio é ter o coração disponível para necessárias renúncias de nossos desejos e nossos projetos pessoais, mergulhando o nosso coração no Coração d’Aquele que abriu o seu Coração para nos acolher.

Deus quis dotar o seu Filho de um coração humano, para que, através dele, pudesse demonstrar concretamente o seu amor por cada pessoa humana e atrair a todos para o seu Divino Coração. A Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II Gaudium et Spes nos diz, com palavras inspiradas: “(…) pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano” (GS, 22).

O Papa Francisco, na sua Carta Encíclica “Dilexit Nos”, sobre o Amor Humano e Divino do Coração de Jesus, nos adverte: “não atingimos a nossa plena humanidade se não saímos de nós mesmos, tal como não nos tornamos inteiramente nós mesmos se não amamos” (DN, 59). Ao possuir, pela encarnação, um coração de carne, Deus quis se revelar e se tornar particularmente próximo de nós (DN, 58). Dessa forma, podemos nos sentir profundamente amados por um coração humano, cheio de afetos e sentimentos como os nossos (DN, 67).

O lugar de revelação do coração de Jesus é a cruz. O lado do Crucificado, aberto pela lança do soldado, escancara o coração que tanto amou (cf. Jo 19,33): um coração dilacerado de amor pela humanidade. “Amou-os até o fim” (Jo 13,1). Mesmo depois do “fim” ele continua a amar-nos e a apontar o coração do Pai. O coração aberto de Jesus se torna a janela através da qual se nos é revelado o coração do próprio Deus. Em Jesus vimos Deus chorar pela morte de um amigo (cf. Jo 11,5); vimos Deus emocionar-se com as lágrimas de uma mãe que sepultava o seu único filho (cf. Lc 7,13); vimos Deus comover-se diante das multidões que estavam como ovelhas sem pastor (cf. Mc 6,34).

Jesus nos revela o seu coração como “manso e humilde”. Na Bíblia, manso é o homem reto que, embora sofra extorsões e prepotências, não se exalta, não se enfurece e não agride. Manso é o homem piedoso que confia no Senhor porque está certo de que nunca será abandonado às mãos do malvado. Jesus tem um coração manso porque se fez pequeno, lançou-se aos pés da humanidade e assumiu a condição de servo. É este “jugo” que ele propõe aos seus discípulos. E esse jugo é “seu” porque foi ele quem o carregou primeiro. É essa a atitude que Jesus propõe aos seus seguidores, como o Apóstolo Paulo nos adverte: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5).

Esse coração humano e divino nos elegeu, com amor de predileção, e desejou unir-nos a si. Passamos a ser consanguíneos, concorpóreos, concordes ao Senhor, de tal forma que somos chamados a deixar o nosso coração palpitar no compasso mesmo do coração de Jesus. Acolhamos as palavras do Apóstolo “Que ele vos conceda, segundo a riqueza da sua glória, serdes robustecidos, por seu Espírito, quanto ao homem interior, que ele faça habitar, pela fé, Cristo em vossos corações, que estejais enraizados e fundados no amor” (Ef 3,16-17). Juntos, supliquemos: “Sagrado Coração de Jesus, centro de todos os corações, fornalha ardente de caridade, delícia de todos os corações, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!”.

Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí

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