Acontece o encerramento de mais um Ano Litúrgico, com a Celebração da Festa de Cristo Rei do Universo, Daquele que nasceu com o predicado de Rei e morreu na cruz como Rei. É inexplicável contradição pensar num reinado em que o rei é condenado por aqueles que deveriam defendê-lo, principalmente de uma morte tão violenta e trágica, como foi a de Jesus Cristo, no Calvário.
O Livro do Apocalipse de São João diz que Jesus Cristo é o soberano de todos os reis da terra, mas quando se entende bem o sentido verdadeiro de seu Reinado, bem diferente de todos os outros, pois, ele tem a marca registrada do serviço, do amor e da verdade. Os outros reis perderam sua autenticidade, porque se “prostituíram” naquilo que os definia como conteúdo de identidade.
Pilatos, mesmo não enxergando nada de grave na conduta de Jesus, lava as mãos e o entrega para ser condenado à morte. A conclusão fatídica é clara: Aquele que tem poder eterno é condenado por quem teria condição de poupá-lo dessa prática trágica da cruz. O Reinado de Jesus foi visto com perplexidade, como novidade, mas focado na justiça e na paz, naquilo que causava impacto para os reis.
Quem são os reis de hoje, os responsáveis pela condução do mundo e das realidades que o compõem? As exigências da atualidade são muito maiores, porque estamos diante de culturas com práticas ilimitadas de destruição, exigindo ações bem pontuais de autoridades imbuídas de espírito comprometido com as causas da humanidade. Infelizmente, não é o que acontece na maioria dos que governam.
O Reinado de Jesus é diferente dos demais, porque ele não quer escravos, nem indivíduos sem liberdade. Quer pessoas dispostas e responsáveis para construir o bem da humanidade. É uma prática que nunca passa pelo caminho da perseguição e da vingança. Para Ele, uma guerra não liberta ninguém. Pelo contrário, provoca morte, como aconteceu com as atitudes descomprometidas de Pilatos.
Jesus Cristo é proclamado Rei, mas com a configuração do Reino de Deus, porque ele mesmo dá a declaração: “meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36), diferente do reinado dos judeus, que subjuga e ameaça as pessoas. É Reino de doação, de serviço ao irmão e de liberdade, com a finalidade de discernimento diante das propostas e os critérios apresentados pelo Evangelho.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba