No Dia Mundial dos Avós e dos Idosos lembramos Santana e São Joaquim, pais de Maria, Mãe de Jesus, avós do Salvador do mundo. Momento em que o Papa Francisco dirige a todos uma mensagem que se torna convite para o efetivo engajamento na missão de combater a solidão, sentimento que compromete o gosto e o brilho do viver humano, em quaisquer de suas etapas. A solidão nascida do silêncio e da contemplação orante é alicerce para as atividades diárias e um alento que fecunda o gosto e o zelo pela vida, possibilitando uma indispensável qualificação espiritual e força para enfrentar as lutas e embates cotidianos. A solidão que brota do silêncio, aquele do reverso do mundo barulhento da contemporaneidade, das falas a esmo, do desejo frenético de opinar sobre todas as coisas e comentar sobre tudo, tem propriedades indispensáveis para configurar a unidade interior, sem a qual é impossível dar conta de viver. A solidão a ser combatida é aquela nascida e cruelmente fecundada pelo abandono.
O Papa Francisco inspira sua mensagem para este IV Dia Mundial dos Avós e dos Idosos no Salmo 71,9: ‘Na velhice, não me abandones’, uma súplica de socorro iluminada na atitude amorosa e paternal de Deus que jamais abandona seus filhos e filhas, mesmo quando a idade avança e as forças declinam. Ao contrário, ampara e consola, especialmente quando a função social é reduzida com uma vida menos produtiva, revertendo o natural sentimento de se pensar como inútil. Este é o horizonte de inspiração e compromisso por parte de todos os cidadãos e cidadãs na sociedade. Trata-se de uma interpelação para não se correr o risco, em qualquer etapa da vida, de se cometer o erro de pensá-la como irrelevante. Na construção desafiadora da vida, cada um conta de modo relevante, obviamente com contribuições diferentes. O amor misericordioso de Deus para com todos é uma inspiração insubstituível à conduta humana, considerados todos, de alguma maneira, importantes para a edificação adequada do viver humano.
Deus está ao lado dos seus em todos os momentos, não menos na velhice, iluminando o dom precioso de se envelhecer com contribuições na vida da família, da sociedade, da Igreja e de muitas instituições e segmentos sociais. Esta compreensão combate frontalmente a vigente cultura do descarte que afronta a dignidade humana e cava fossos perigosos para o cotidiano da humanidade, que não pode prescindir da memória de sua história. O medo de rejeição na velhice está presente, e é uma súplica orante a Deus, devendo ecoar nos ouvidos e corações de todos: ‘Não me rejeites no tempo da velhice´, especialmente nos períodos de sofrimentos, para dissipar e superar o destrutivo temor do abandono. A natural companheira dos idosos, a solidão, precisa ser fecundada e transformada pelas atitudes de presença, atenção, tempo dedicado em escutas, visitas, passeios, ajudas e serviços prestados, incluindo aqueles indispensáveis, considerados os limites de mobilidade e uso de força física.
O combate à solidão deve ser assumido como tarefa e compromisso familiar, impulsionados pela gratidão e reconhecimentos, alicerçados na convicção da necessidade de quem está só em casa, nas residências de idosos ou nos hospitais. É importante, cada indivíduo, famílias, grupos, segmentos da sociedade, governantes também, prestarem atenção na cartografia da solidão envolvendo os idosos. Há muito a se fazer para dar aos corações a oportunidade de vivenciar uma sensibilidade espiritual e emocional que reverte em ganho àquele que cuida. Põe-se o desafio de erradicar todo tipo de preconceito e hostilidades aos idosos, risco de mentalidades tortas que alimentam os embates entre gerações. Os idosos não roubam, jamais, o futuro dos jovens, mas sim, têm efetiva contribuição às suas vidas e projetos. O que pesa em relação aos cuidados para com os idosos precisa ser considerado como direito e retribuição por tudo aquilo que já fizeram e ofereceram. Há, pois, de se ter muito cuidado para não se alimentar lamentações e injúrias que afetam a paz dos mais velhos, mas, ao contrário, requerer ações políticas, econômicas, sociais e pessoais que favoreçam suas vidas. Tudo isso, movido pelo princípio intocável da dignidade infinita de cada pessoa. Nunca se pode perder este sentido e este valor, considerando pessoas apenas como uma despesa, o que pode inclusive, amargamente, alimentar nos idosos a equivocada convicção de ser um peso, levando ao sentimento desumano de querer desaparecer, de se considerar inútil.
Os idosos precisam ser envolvidos pelo clima de recíproca pertença, especialmente no ambiente familiar, lugar por excelência de fecundação de vínculos, alicerce de vida saudável e de potencial educativo para jovens gerações. É urgente no combate à solidão erradicar a perversidade da cultura do descarte,
acompanhada de maliciosos deboches, causando tristezas e matando a simplicidade da alegria, comprometendo a qualidade de um acompanhamento humano e de uma força espiritual que muito contam em efeitos positivos, embora invisíveis, necessários à paz do viver humano. O convite e propósitos que devem ser assumidos por ocasião deste IV Dia Mundial dos Avós e Idosos consistem no compromisso de testemunhar a ternura para com eles, com gestos concretos como visitas, dedicação de tempo na convivência diária, especialmente aos desanimados, usufruindo de sua experiência, de sua sabedoria.
Pode-se parafrasear o que santos e místicos dizem do amor preferencial de Deus pelos pobres, na afirmação de que Deus ama a quem ama os pobres; Deus ama a quem ama e respeita os idosos, favorecendo-os com benefícios. O cuidado com os avós e idosos, nas famílias, nas igrejas, nas instituições todas da sociedade, para além de respeito indispensável aos ordenamentos jurídicos de um estatuto, é garantia de civilização alicerçada sobre pilares que promovem a paz e configuram estilos de vida assentados sobre a justiça e a paz, alavancas do desenvolvimento integral. Recebam a bênção do Papa Francisco: ‘A todos vós, queridos avós e idosos, e às pessoas que vos acompanham, chegue minha bênção acompanhada pela oração. E também vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim’. Feliz Dia dos Avós e dos Idosos!
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte