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1out2023

1ª LEITURA – Ez 18,25-28

O capítulo 18 do profeta Ezequiel traz uma concepção nova de responsabilidade. Para o povo que só
pensava na responsabilidade coletiva, ele vai insistindo sobre a responsabilidade individual. O povo no
exílio começa a pensar que está pagando pelos pecados dos seus antepassados. Aliás, isto é um
pensamento comum. O exílio é visto como consequência das infidelidades à Aliança, infidelidade dos seus pais, mas eles também cometem pecados e injustiças e agora estão acusando a Deus dizendo: “A conduta do Senhor não é correta”. E é aqui que começa o nosso texto num forte acento sobre a responsabilidade individual. Eles não entendem a justiça de Deus e dizem que Deus está agindo errado cobrando dos filhos a culpa dos pais. Deus, então, convida o povo a um exame de consciência sério e profundo, pois é a conduta deles que não é correta. Deus nunca quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. Quem comete iniquidades morre em consequência de seus próprios erros. Não é Deus que manda a morte diretamente. Quando um ímpio, um pecador, se arrepende de seus erros e começa a ter conduta reta, ele conserva a sua vida. Cada um é, portanto, responsável pelos seus próprios atos. A conduta de Deus é sempre correta, pois ele quer a vida e, generosamente, dá o perdão para aqueles que se arrependem. O importante, então, é que cada um se arrependa de todos os seus crimes e erros, e a vida sorrirá para ele.

2ª LEITURA – Fl 2,1-11

Este trecho leva a comunidade a um exame de consciência. Os versos iniciais são um apelo ao que
há de mais sagrado. Paulo é delicado ao chamar a atenção de sua comunidade. “Conforto em Cristo”,
“consolação no amor”, “comunhão no espírito”, “ternura e compaixão”, são expressões que revelam a
sacralidade deste apelo feito por quem se sente profundamente unido à sua comunidade com laços de
verdadeira ternura. Toda a carta é uma demonstração de afeto e de alegria. Mas o apóstolo gostaria que
sua alegria fosse completa. E o que falta para isso? As exortações do apóstolo revelam o que está faltando na comunidade. Está faltando comunhão de vida, de sentimentos, comunhão de amor. O coração da comunidade está dividido. Está havendo competições, rivalidades, vanglórias; está faltando a humildade; alguns estão se achando superiores aos outros e se atolando no orgulho e no egoísmo, cuidando apenas do que é seu. A comunidade está bem distante dos sentimentos de Cristo, que se despojou totalmente, se humilhou ao extremo e se entregou por nós. Paulo arremata suas exortações com este pedido: “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que há no Cristo Jesus” (v.5). Segue agora um lindo hino cristológico (vv.6-11). Este hino – uma das mais belas sínteses do pensamento de Paulo sobre Jesus – mostra dois movimentos – um descendente (vv. 6-8) e outro ascendente (vv. 9-11). O movimento descendente tem Jesus como sujeito. É a ação radical de Deus Filho que se torna servo obediente. O Filho abandona tudo o que tem direito, todas as prerrogativas de sua condição divina. Esvazia-se, aniquila-se, aceita a condição de escravo, tornando-se igual aos homens. E ainda, como homem, ele se rebaixou totalmente sendo obediente até a morte e morte ignominiosa numa cruz. Nesse movimento descendente percebemos o profundo mergulho do Filho de Deus na miséria humana para ser solidário com os mais miseráveis e desprezíveis. O movimento ascendente tem o Pai como sujeito. Ele exalta o Filho com sua ressurreição, ascensão e entronização. O Filho ocupa de novo o lugar que já possuía junto ao trono do Pai. O Pai exalta o nome de Jesus acima de qualquer nome. O nome de Jesus é “Senhor”. Todos devem adorá-lo (dobrar os joelhos). E toda a língua deve proclamar para a glória do Pai que o Filho Jesus é o Senhor.

EVANGELHO – Mt 21,28-32
Antes de comentarmos a parábola dos dois filhos, precisamos fazer duas perguntas. Onde Jesus está? O
capítulo 21 nos mostra Jesus no Templo. O Templo simbolizava a sede dos donos do poder político,
econômico e ideológico do tempo de Jesus. É ali que vão surgir os conflitos que levarão Jesus à morte. O
discurso de Jeremias no Templo custou-lhe um processo e ameaça de morte (cf. Jr 26,11). Mas Jesus não
teme. Pelo contrário, ele provoca o confronto e desmantela os mecanismos das estruturas injustas. A quem Jesus se dirige? Jesus conta a parábola exatamente para os responsáveis, para os senhores do Templo: sumos sacerdotes e anciãos do povo (cf. Mt 21,23). Como é a parábola? É o pai pedindo aos dois filhos que fossem trabalhar na sua vinha. O mais velho respondeu que não quer, mas depois se arrependeu e foi. O mais novo respondeu cordialmente que ia, mas não foi.

Jesus pergunta, então, aos sumos sacerdotes e aos anciãos, qual dos dois fez a vontade do Pai. A resposta vem logo: “O filho mais velho”. Quem é o filho mais velho? São os cobradores de impostos e as prostitutas que primeiro disseram não, mas depois se arrependeram e aceitaram o testemunho de João. Cobradores de impostos e prostitutas representam todos àqueles que as elites marginalizaram e excluíram claramente do Reino de Deus. Quem é o filho mais novo? O filho mais novo são os donos do poder, são os membros do sinédrio; é a elite de Israel, que aparentemente disse sim a Deus, mas cujo sim ficou apenas nas palavras. São os que dizem, mas não fazem. São os que se dizem defensores da religião e, em nome de Deus, oprimem, marginalizam e excluem o povo de sua participação no Reino. Jesus afirma claramente que os marginalizados entrarão antes deles no Reino do Céu. Esta expressão “entrarão antes” não significa que vai chegar a vez deles, mas é um modo típico na mentalidade hebraica de afirmar a exclusão. Numa palavra, eles não entrarão no Reino dos Céus, pois “nem todo aquele que me diz: “Senhor! Senhor!”, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus” ( Mt 7,21).

Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga

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