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30º Domingo Comum | 27/10/2024

1ª LEITURA – Jr 31,7-9

Jeremias 30-31 é chamado o “Livro da Consolação”, porque trata da esperança e restauração do povo. Por que estas mensagens de esperança? O quadro histórico talvez nos dê uma luz. No ano 721 a.C. aconteceu o exílio do Reino do Norte (Israel) para a Assíria. No ano 627 a.C. temos a vocação de Jeremias. O ano 622 a.C. marca a grande reforma religiosa e moral do piedoso rei Josias. É o primeiro motivo da esperança. Em 612 a.C. – destruição de Nínive e queda da Assíria. A queda do opressor é o segundo motivo de esperança e libertação. Parece que o texto se dirige primeiramente a Israel (o Norte), anunciando-lhe a esperança do retorno. Para Judá, orgulhosa e rebelde serve de julgamento e castigo, pois o exílio já estava às portas. Depois do exílio babilônico em 586 a.C. servirá também de esperança para o reino do Sul (Judá).

O certo é que Deus não abandona o seu povo, embora costume dar-lhe a oportunidade de conversão. O texto de hoje convida Judá a se alegrar por causa da libertação de sua irmã do Norte – o povo de Israel. O Senhor mesmo vai trazê-los de volta do exílio, do País do Norte, quer dizer, da Assíria. Para mostrar que o Senhor é o Deus que defende, liberta e salva os fracos e marginalizados, o texto faz menção do cego, aleijado, mulher grávida, mulher com recém-nascido. É o grupo dos marginalizados, indefesos e desamparados, que Javé reúne e liberta. A dor da partida para o exílio, provocada pelos próprios pecados é agora recuperada com a alegria do arrependimento, da conversão e do retorno. O profeta usa aqui duas imagens para mostrar a ternura de Deus para com os desprotegidos. A imagem do Pastor, que conduz os rebanhos para os córregos de água, por um caminho plano, onde não tropeçarão; e a imagem do Pai, que ama profundamente seu filho primogênito. O povo de Deus é a família, onde Deus é o Pai. Antes do Exílio Babilônico, diante do pecado, soberba e rebeldia de Judá, o fato de Deus escolher Efraim (= o reino do Norte), como seu primogênito, deveria ser alerta à conversão.

2ª LEITURA – Hb 5,1-6

Estamos, como no domingo anterior, dentro da mensagem central da carta aos Hebreus. Jesus Cristo como sumo sacerdote e único mediador entre Deus e seu povo. Podemos destacar agora duas partes:

1ª parte: 5,1-4 – Identidade e função dos sacerdotes da Antiga aliança
a)  O sumo sacerdote era uma pessoa escolhida entre os homens e constituída para o bem dos homens, nas coisas que se referem a Deus.
b)  Sua função era a de oferecer dons e sacrifícios tanto pelos próprios pecados como pelos pecados do povo.
c)  Esta honra só se recebe por vocação. É Deus quem chama como chamou Aarão.

2ª parte: vv. 5,5-10 – O sacerdócio de Jesus Cristo

O texto de hoje propõe a leitura até o v. 6. Mas, no conjunto, temos aqui a contraposição do sacerdócio de Jesus Cristo ao sacerdócio da Antiga Aliança. O sacerdócio da Nova Aliança em Jesus Cristo é original, superior e único. A glória de ser sumo sacerdote não foi atribuída por Jesus a si mesmo, mas foi-lhe dada por Deus quando disse: “Tu és o meu Filho, eu hoje o gerei”. Aqui, está a superioridade do sacerdócio de Jesus: ele é o próprio Filho de Deus. Além disso, seu sacerdócio suprime e substitui todos os sacrifícios da Antiga Aliança. Com a 2ª citação: “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec”, o autor mostra que o sacerdócio de Jesus não se prende à instituição. Ele se assemelha ao de Melquisedec, sacerdote de origem desconhecida, mas é reconhecido por Abraão (Gn 14,17-20). O resto do texto apresenta a entrega total de Jesus, sua obediência através do sofrimento, sua perfeição e o resultado de sua oferta, que é a salvação de todos os que lhe obedecem.

EVANGELHO – Mc 10,46-52

a)  Os dois cegos símbolos da cegueira dos discípulos

A cura do cego de Jericó, praticamente, no final da segunda parte do evangelho faz um paralelo com a cura do cego de Betsaida (cf. 8,22-26) no final da primeira parte. O cego de Betsaida simboliza o primeiro esforço de Jesus de abrir os olhos dos discípulos. Jesus ordena que não entre no povoado, para indicar que não devia voltar a participar da sociedade que marginalizava as pessoas. Mas a cura completa dos discípulos é um trabalho difícil para Jesus. Mas para finalizar seus milagres temos a coroação do esforço de Jesus na cura do cego de Jericó, o discípulo perfeito. Aqui, a fé já está purificada e o cego sai da marginalização e, totalmente desvinculado da sociedade marginalizante, segue o caminho de Jesus rumo a Jerusalém, cidade do confronto com as lideranças opressoras.

b) O cego confessa Jesus como Messias

A confissão do cego Bartimeu se aproxima da de Pedro (8,29) e da do centurião romano (15,39). Chamando Jesus de Filho de Davi ele está professando a fé em Jesus como Messias. É exatamente a tese que o evangelista Marcos se propõe a provar, quando inicia o seu evangelho: “Evangelho de Jesus, o Messias (=Cristo), o Filho de Deus”. O cego sabe quem é Jesus. Isso mostra que o verdadeiro discípulo sabe quem é Jesus mesmo sem tê-lo visto. Reconhecendo Jesus, ele grita por piedade, mas a sociedade impiedosa o repreende e o manda calar. É a sociedade dominante que tenta sufocar o grito dos pequenos e desvalidos. Mas os pequenos do Reino não desistem. O cego grita mais alto ainda.

c) A vocação do cego

Jesus pára e manda chamar o cego. Aqui está a vocação. Jesus chama. Agora o grupo se transforma em porta voz de Jesus, encorajando o cego a ir até Jesus, a responder o chamado. “Jogou o manto fora” indica o abandono de tudo por causa de Jesus. Ele rompe com a sociedade que o marginalizava e faz como os apóstolos, que deixaram tudo para seguir o mestre. O manto era tudo que tinha, servia de cama, de coberta, como também para receber as esmolas da sociedade. Era, portanto, símbolo de sua dependência. Jesus pergunta o que ele quer que Jesus faça. A resposta é profunda: ele não quer esmola, ele quer ver de novo. Primeiro, ele pede piedade de sua situação de indigência e marginalização, depois, ele larga tudo o que o oprimia e o fazia dependente. Agora, ele pede um instrumento de libertação: o ver. Ele quer ver Jesus; quer ver o caminho da libertação; quer comprometer-se com Jesus; quer ser enviado como os apóstolos. Jesus, de fato, diz: “Vai, tua fé te salvou”. É a missão principal do discípulo, é o seguimento do mestre a caminho de Jerusalém. O cego é, portanto, o discípulo perfeito.

Por: Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Emérito de Caratinga

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