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29º domingo comum | 20/10/2024

1ª LEITURA – Is 53,10-11

Estes dois versículos pertencem ao quarto poema do “Servo do Senhor” (Is 52,13-53,12; os outros três são: Is 42,1-9; 49,1-9a; 50,4-9). O assunto do quarto poema é o sofrimento, a morte e a vitória do Servo como vítima de injustiça. A impressão geral é que o Servo está totalmente abandonado até mesmo por Deus. Mais ainda parece que é Deus que o castiga, para que, através do seu sofrimento, ele possa conseguir a remissão dos pecados do povo (cf. vv.4-6.8b), pois ele mesmo não tinha pecado algum (cf. v. 9b)

Apesar da clareza do primeiro versículo de hoje, sabemos pelo conjunto da Sagrada Escritura que “Deus não quer a morte do pecador, mas que ele viva”. E o Servo nem pecador era. Na verdade, Deus não se alegra com o sofrimento do justo. Seu sofrimento provém do pecado do mundo, da sociedade injusta, da opressão dos poderosos. Mas Deus pode servir-se do sofrimento do justo para fazer triunfar a sua causa; seu sofrimento não é consequência de seus próprios pecados, mas dos pecados dos outros. O importante, então, para o justo era oferecer a vida como sacrifício pelos pecados dos outros e fazê-lo de modo consciente como o fez o Servo de Deus. Ele sofre como se fora culpado para a salvação dos culpados. Qual é o resultado do sacrifício do Servo?

 a) “Ele há de ver seus descendentes e prolongará sua existência”. Isto significa a vitória da justiça, o triunfo da geração dos humilhados.

 b) “E a vontade do Senhor triunfará em suas mãos”, apesar da aparente vitória do pecado, da injustiça e da morte. Deus está do lado dos fracos, marginalizados e oprimidos – os servos sofredores.

  c) O justo e com ele todos os justificados verão a luz e ficarão satisfeitos, ou seja, contemplarão a luz da vitória de Deus, seu clarão de glória.

 d) “Ele justificará a muitos”, quer dizer, ele será o portador da salvação de Deus para todos. A essa altura parece inútil perguntar a quem se refere essa profecia do Servo sofredor, principalmente, quando se sabe que ao narrar a paixão de Jesus, os Evangelhos retomam, quase literalmente, o quarto canto do Servo.

2ª LEITURA – Hb 4,14-16

Aqui está o cerne da carta aos Hebreus: Jesus Cristo Sumo e eterno Sacerdote é o único mediador entre Deus e os homens. É nesta fé que a comunidade cristã precisa permanecer firme. Era costume em Israel o sumo sacerdote entrar uma vez por ano na parte central e mais Sagrada do Templo de Jerusalém, que se chamava “Santo dos Santos”. Ali, estava a Arca da Aliança. Era assim através de ritos purificatórios e através do sacrifício de um animal que o sumo sacerdote se tornava mediador entre Deus e o seu povo, alcançando para o povo a misericórdia de Deus. Jesus, o Filho de Deus, entrou no céu uma vez por todas, através do sacrifício de sua própria vida. De fato, ele se imolou por nós e Deus o ressuscitou, colocando-o à sua direita. Ele é agora o único mediador entre Deus e os homens. Com o sacrifício redentor de Cristo todos os antigos sacrifícios foram abolidos e com eles qualquer mediação. Agora, o único mediador é Jesus. E tem mais, Jesus nos compreende; ele é capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele é igual a nós em tudo, com exceção do pecado. Ele padeceu toda a sorte de sofrimento. Carregou sobre si todas as dores do povo como o Servo do Senhor (1ª leitura). Diante de toda essa solidariedade do Filho de Deus, que se assentou no trono da graça junto do Pai, a comunidade cristã sofrida, perseguida, vivendo situações difíceis, deve ter duas atitudes: permanecer firme na fé e aproximar-se com total confiança diante de Deus através de Jesus. Ele veio ao mundo tornou-se sacerdote e único mediador exatamente para através dele alcançarmos do Pai misericórdia e graça.

EVANGELHO – Mc 10,35-45

Em Mc 10,32-34 temos o terceiro anúncio da paixão no evangelho de Marcos. Os outros dois estão em Marcos 8,31 e 9,31-32. Logo após o terceiro anúncio da paixão temos o texto de hoje. Os discípulos não entendem o ensinamento de Jesus sobre o seu messianismo e sobre o que é ser cristão.

Os discípulos querem poder e glória

Quem encarna essa ambição política são os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João. Eles querem se sentar ao lado de Jesus no governo de Israel, querem postos de honra e glória. Mal sabem eles que nestas posições, no trono da cruz de Jesus, estavam dois marginalizados! Jesus quer ensinar que só alcançará a glória quem passar pela cruz do serviço, da doação de si mesmo. É justamente a busca de poder e de glória que massacra os servidores do Reino. Jesus declara a ignorância dos discípulos e pergunta se eles podem beber o cálice do seu sofrimento ou sofrer o batismo da sua morte na cruz. Eles dizem que sim. Este sim deve ser uma consciência adquirida depois do martírio dos primeiros seguidores de Jesus. Jesus confirma os futuros mártires, mas esclarece que o lugar de glória é dado pelo Pai. Os outros dez se aborrecem com este pedido imbecil, mas também eles se alimentam dessas esperanças políticas triunfantes.

Jesus ensina o serviço e a humildade.

Os discípulos não sabem o que estão pedindo, mas sabem da opressão, do abuso dos grandes sobre os pequenos, dos que têm poder sobre os que não têm. A comunidade de Jesus é diferente das sociedades políticas. Quem busca poder e glória provoca sempre aborrecimentos, marginalização, violência. Jesus quer formar uma nova comunidade, onde não há diferenças, onde não há distinção entre os grandes que são servidos e os pequenos que são servidores. Jesus quer nivelar sem marginalizar, quer nivelar dignificando a todos a partir do serviço. São todos grandes na comunidade de Jesus, pois todos são servidores: “Quem quiser ser o maior entre vos seja aquele que vos serve e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos”. E para isso Jesus deixa seu exemplo, ele “veio para servir e dar a sua vida como resgate de muitos”. “Resgate era a soma paga para libertar escravos”. Jesus serviu com um serviço total. Assim ele libertou a todos da servidão que oprime, e convida a todos para um serviço que liberta.

Por: Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Emérito de Caratinga

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