Ao falar do sacrifício de Cristo, quando assassinado na cruz, agora, em tempo de guerras, violência e assassinatos, nossa mente se volta para a pavorosa realidade de tantas pessoas humanas sendo sacrificadas no mundo. É inconcebível ser ceifado, e de forma tão barata, como vem acontecendo por todo lado, fruto de uma cultura, evoluída tecnologicamente, mas insensível à dignidade humana.
Sabemos que a violência sempre existiu. Basta olhar, também no Antigo Testamento, as atrocidades relatadas pela bíblia. Isaac quase foi sacrificado pelo próprio pai (cf Gn 22,1-2). Na verdade, o Senhor quis identificar a capacidade de fé de Abraão, para lhe confiar uma importante missão, mas não deixou que esse fato drástico acontecesse, porque seria eliminar uma vida inocente.
Sacrificar vidas humanas significa fugir dos princípios que geram temor a Deus e impedem as riquezas das bençãos divinas. Todas as pessoas têm direito a vida e de viver livremente sem ser ameaçadas pelos seus pares. E ninguém pode violentar de morte o outro, muito menos fazer justiça com as próprias mãos, porque a sociedade é organizada de forma a fazer cumprir a justiça.
Muita gente enfrenta a ação dos tribunais humanos, mas todos serão colocados também diante do tribunal de Deus e terão o julgamento divino. Mesmo não conseguindo medir a dimensão do tamanho da misericórdia do Senhor, é importante preocupar-se com a sentença que será proferida para cada um. Essa sentença deverá ser na medida da responsabilidade do agir de hoje.
A Quaresma deve ser um caminho de transfiguração, aquilo que chamamos de conversão ou de recuperação da identidade cristã perdida pelo mal praticado. Assim poder chegar ao tempo da Páscoa como uma nova figura, isto é, como pessoa ressuscitada. Na verdade, é antecipação das realidades eternas anunciadas por Jesus Cristo nos diversos momentos dentro do transcorrer das palavras bíblicas.
Devemos entender a expressão, “sacrifícios humanos”, em dois sentidos. O primeiro é aquele praticado com o uso irresponsável da violência, que ocasiona a morte de pessoas, talvez até inocentes. O segundo, realizado de forma piedosa e de iniciativa pessoal como oblação, de ascese e caminho de intimidade com Deus, que confirma o sentido verdadeiro da vida, que é dom generoso de Deus.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.