Muitas coisas, hoje, provocam pavor e medo nas pessoas. Não é o caso aqui de enumerar os causadores dessa realidade, mas é importante ressaltar o sintoma de desespero, de crise na esperança e desânimo quanto ao futuro. O stresse e a baixa autoestima levam ao ostracismo em relação a tudo que dificulta uma vida feliz. As virtudes pessoais acabam não dando conta de superar as amarras cotidianas.
O desenvolvimento tecnológico-científico da atualidade deve ser capaz de reanimar a vida de esperança da população. Animar, de modo especial, aos que sofrem qualquer tipo de limitações seja física, psicológica, social e existencial. Quando Jesus cura um surdo-mudo, a intenção era restaurar, naquele ser humano, a sua dignidade e capacidade para viver bem e ser feliz como os demais.
Creio que uma das identidades a ser restaurada é a prática da fé confiante em Deus. O profeta Isaías expressa esse pensamento, na frase: “Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo!” (Is 35,4). A expressão do profeta, “não ter medo”, acontece especialmente quando a pessoa deposita sua confiança em Deus e coloca em prática os ensinamentos da mensagem evangélica.
Pela fé em Jesus Cristo, não deveria existir discriminação entre as pessoas. A realidade social e econômica pode contribuir com o crescimento das diferenças, pontuadas entre ricos, com medo de pobres, e pobres com medo de ricos. Tiago é enfático: “Escutai, meus caríssimos irmãos: não escolheu Deus os pobres aos olhos do mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino…?” (Tg 2,5).
Todas as pessoas vivendo em uma situação existencial de depressão, doentia, decaídas, devem encontrar formas práticas que as remodelem e superem tais realidades. O caminho mais seguro, diante desse fato, é o encontro confiante e pessoal com Jesus Cristo, com Aquele que “aos surdos fez ouvir, aos mudos fez falar” (Mc 7,37). Essas deficiências causam medo e insegurança na vida.
A pessoa humana não pode viver numa surdez espiritual, desconectada totalmente das realidades próprias da dimensão de eternidade, porque o humano não se satisfaz por si mesmo. Ele deve ter capacidade para ouvir o som da Palavra de Deus, onde é dito que o Senhor cuida da humanidade e a capacita para superar todo tipo de medo e fragilidades provocadoras de desespero nas pessoas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba