A Festa da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, no dia 15 de setembro, convoca todos os mineiros, e os devotos mundo afora, a peregrinar ao alto da Serra da Piedade, magnífica arquitetura divina. Percorrer cinco quilômetros – da entrada ao topo da montanha sagrada – até atingir 1746 metros de altura, para visitar a Ermida da Padroeira de Minas Gerais, a menor basílica do mundo. Lá é a casa de clemência e de bondade – a casa da Mãe da Piedade. A devoção à Nossa Senhora da Piedade identifica a alma mineira, com a singularidade da Mãe que aconchega o filho, Homem-Deus, no seu colo, participante de sua paixão, morte e ressurreição. Maria garante aos seus filhos proteção e intercessão. É também exemplar para aqueles que seguem Jesus, pois é Mãe que se torna discípula de seu Filho, mostrando ser Jesus o centro de tudo. Uma lição que educa o ser humano para viver a fé em seu sentido mais autêntico. A devoção mariana é, assim, indispensável, pois ajuda a temperar sentimentos, contribuindo para que a humanidade encontre equilíbrio. Promove o sentido autêntico e belo da vida – uma proteção para as ameaças dos radicalismos, das ideologizações extremadas, dos racionalismos e das relativizações, emoldurados pela pretensão humana de eleger sua “régua” como medida única de tudo.
Quando essas ameaças tomam conta do coração, desertificando-o, perde-se o encantamento que só o dom maior da vida tem. Debelam essas ameaças as estampas contempladas na Serra da Piedade, de mil facetas, pela exuberância das manifestações da natureza que configuram o jardim de Nossa Senhora da Piedade. No impressionante território do Santuário da Padroeira de Minas Gerais estão reunidas belezas da Mata Atlântica, dos Campos Rupestres e do Cerrado – remédios que curam, temperos que dão sabor ao viver. Um jardim formatado pelas mãos divinas, sem engenharia humana, com manifestações que sensibilizam mentes e corações. Uma sensibilização com força educativa, nascida de uma academia especializada, com leveza e tantas outras propriedades capazes da dar enlevo e lucidez ao ser humano. As exuberâncias do jardim de Nossa Senhora – com um milhão e 200 mil metros quadrados – revelam, da maneira mais completa, o que Minas Gerais é, definindo a sua identidade geográfica, humana e religiosa.
O mais singular das montanhas de Minas – a aragem e o silêncio – se experimenta intensa e fortemente na Serra da Piedade. Uma aragem que limpa a alma desanuviando o olhar para fecundá-lo com os traços da beleza, dando poesia à existência, com um silêncio que remete ao coração de Deus. Alimenta, assim, a indispensável competência humana e espiritual para dialogar, condição insubstituível na tarefa cidadã de construir uma sociedade justa, fraterna e solidária. Todo diálogo necessita de adequada capacidade para escutar, fecundada por uma aprendizagem que só o silêncio arquiteta na mente e na inteligência. Na Serra da Piedade, o silêncio exercita uma contemplação temperada pela aragem e pelo encantamento das belezas da natureza, com singularidade terapêutica de uma medicina, exercício com a força educativa de uma escola. Esse exercício é praticado sem a condução de um maestro – lá no alto da Serra, todos, com idades diferentes, crianças, jovens e adultos, tornam-se aprendizes do viver humano qualificado. Na medida própria de cada um, o olhar colhe detalhes com força educativa e terapêutica, sem as artimanhas ou as ilusões de “belezas” comercializadas.
Constata-se, com convicção, que cada visita, cada momento – manhã, tarde ou noite -, na Serra da Piedade, apresenta lições únicas, sem repetições. Lugar que reúne as riquezas de Minas – minerais, ambientais e um relevante aquífero -, constituindo uma escola para a educação ambiental. O Santuário Basílica da Padroeira de Minas Gerais, assim, aponta para a luta da preservação, para a necessidade de se construir entendimentos essenciais à configuração de legislações não predatórias. Um território sagrado que inspira a inteligência por mostrar a importância de um desenvolvimento sustentável e integral. Nesse sentido, reconheça-se o inesgotável potencial turístico da Serra da Piedade, com singularidades que desafiam autoridades e construtores da sociedade para a necessidade de investimentos em mobilidade. Esses investimentos podem alavancar o desenvolvimento econômico, a partir da incontestável potencialidade do turismo religioso – promotor de avanços econômicos e sociais contando com o zelo singular da Igreja Católica, que conserva seus patrimônios – também patrimônios de toda a humanidade.
Esta barra de ouro, a Serra da Piedade, é incrustada pelo diamante do Santuário da Piedade. No altar das montanhas de Minas, Cristo fincou sua cruz redentora, e a Mãe da Piedade, pela devoção de Antônio da Silva, o Bracarena, há mais de dois séculos e meio, pôs sua casa de clemência e de bondade. Uma casa que é escola qualificada para a aprendizagem e a prática do seguimento de Jesus Cristo – máxima realização da existência cristã. Nossa Senhora é o modelo da obediência à vontade de Deus, que se desdobra em compromisso com a justiça, defesa dos pobres e fidelidade à verdade que liberta. No topo da montanha, a Praça Cardeal Motta lembra um filho ilustre e iluminado de Minas Gerais. O Cardeal Motta foi quem conseguiu os encaminhamentos necessários para que a Mãe da Piedade se tornasse a Padroeira de Minas. Maria, Mãe da Piedade, além de modelo e paradigma para a humanidade, é artífice de comunhão, atraindo multidões à proximidade com Jesus Cristo e a sua Igreja. Neste dia da Festa de Nossa Senhora da Piedade interpele os corações o convite para peregrinar ao Santuário da Piedade, caminho para sempre aprender muitas e novas lições.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte